A crônica
Origem da crônica
Na mitologia clássica, o deus Cronos, filho de Urano(o Céu) e de Gaia (a Terra), destronou o pai e casou com a própria irmã Réia. Urano eGaia, conhecedores do futuro, predisseram-lhe então, que ele seria, por sua vez destronado por um dos filhos que gerasse. Para evitar a concretização da profecia, Cronos passou a devorar todos os filhos nascidos de sua união com Réia. Até que esta, grávida mais uma vez, conseguiu enganar o marido, dando-lhe a comer uma pedra em vez da criança recém-nascida. E assim, a profecia realizou-se: Zeus, o último da prole divina, conseguindo sobreviver, deu a Cronos uma droga que o fez vomitar todos os filhos que havia devorado. E liderou uma guerra contra o pai, que acabou sendo derrotado por ele e os irmãos.
Cronos é a personificação do tempo. E. de acordo com uma das abordagens teóricas dos mitos clássicos, sua lenda pode ser lida como uma alegoria(fantasia): a de que o tempo, em sua passagem fatal, engole tudo o que é criado e tudo o que é criatura.
Assim sendo, a palavra chronos que significa "tempo", encontra-se na nossa língua, como radical de muitos termos que etimologicamente, ligam-se ao sentido original. Encontramos no dicionário palavras como por exemplo: cronograma, cronológico e a palavra crônica, todas apresentando a idéia de tempo.
A crônica designa um gênero específico de textos, e significa registrar fatos do passado na ordem em que aconteceram, com enfoques de fatos do dia-a-dia. Então a crõnica é sempre um registro do passado, um flagrante do presente e um resgate do tempo. E usando a a mitologia cl´´assica, podemos dizer que como um Zeus humano, o cronista também arranca das entranhas de Cronos os filhos que ele quer devorar, na medida em que não deixa perecer no tempo a matéria fugaz da vida, registrando-a e salvando-a do esquecimento.
Fonte: BENDER, Flora Christina. Crônica: história, teoria e prática, editora Scipione, 1993.
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